segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mataram mais um irmão

Por conta do assassinato de um líder indígena da aldeia Ororubá, no interior do Pará, o bispo de Marabá, dom Vital Corbelini e o Cimi divulgaram uma nota na manhã desta sexta-feira, 12 de julho. No texto, questionam "Quantas vidas ainda terão de sucumbir à saga dos invasores, para que os órgãos competentes tenham boa vontade de resolver o problema? E quem vai reparar essa perda que a família da vitima e a comunidade Atikum está sofrendo, com o bárbaro assassinato de um dos seus membros?".
A seguir, a íntegra do texto:
Diocese de Marabá – CIMI -PA
LIDERANÇA ATIKUM DA ALDEIA ORORUBÁ É ASSASSINADO POR INVASORES DO SEU TERRITÓRIO

A Diocese de Marabá manifesta a indignação frente ao assassinato da liderança Atikum da aldeia Ororubá no Sul do Pará. Nós pedimos ao Senhor a justiça que se realize pelas pessoas humanas. Nós não podemos permanecer acomodados diante da situação que os povos indígenas estão vivendo e muitas vezes sofrem assassinatos. As suas terras são invadidas com derramamento de sangue.
Wilson Ambrósio da Silva era um dos representantes do Povo Atikum do município de Itupiranga (PA). Ele integrava a comitiva indígena do estado que esteve em Brasília no dia 19 de abril passado para somar força às mobilizações do Abril Indígena e denunciar a ocorrência de invasão e ilícito ambiental na área ocupada por suas famílias, dentro de um Projeto de Assentamento para Reforma Agrária, do Incra, na região.
Os índios chegaram a protocolar um documento junto aos representantes da Procuradoria Geral da República, por ocasião da realização de uma audiência pública na sede do órgão, denunciando toda a situação vivenciada pela comunidade e pedindo ajuda urgente, pois o clima entre indígenas e invasores, já estava tenso.
Em Marabá, as lideranças Atikum encaminharam novamente o mesmo ofício, via email, para a Funai e para um representante do Incra, em Brasilia. Participaram também de uma audiência com o MPF, na cidade de Marabá, para tratar da questão, sem que quase nada fosse feito para agilizar a retirada dos invasores da área.
Depois de um ano entre idas e vindas das lideranças Atikum à Funai, ao Incra, à Policia Federal e ao MPF em Marabá, cobrando providências e agilidade no processo de retirada dos invasores da área, no dia 09 de Julho de 2013, o que era temido pela comunidade e o que vinha sendo denunciado já há algum tempo  aconteceu na aldeia Ororubá.
O indígena Wilson Ambrósio da Silva, de 43 anos, foi encontrado morto por volta das 16 h, com dois tiros no corpo, sendo um na cabeça e outro no tórax. Foram membros do seu grupo que o encontraram na reserva ocupada por famílias indígenas.
Segundo a comunidade, ele havia saído pela manhã para a serra (área disputada pelos invasores e o indígenas), para olhar o gado da comunidade que estava pastando naquele local e, não voltou mais.
Os indígenas acusam a família do principal invasor da área, conhecido como “Bil”, de ter praticado o crime. Já fazia 11 meses que a área cedida pelo Incra às famílias Atikum havia sido invadida pelo grupo desse sujeito que de uma hora pra outra chegou na região dizendo que o próprio Incra em Marabá o havia assentado na área.
Segundo o documento que foi entregue ao MPF, em Brasília, os indígenas dizem que “todas as atas das reuniões que foram feitas tanto na FUNAI, no INCRA quanto no MPF em Marabá, através de visitas, apontam uma resolução aparentemente simples para resolver o nosso caso (por favor, solicite esses documentos à FUNAI, ao INCRA e ao MPF em Marabá), mas até o momento o que estamos vendo e sentindo é que estamos sendo enrolados e enganados com falsas promessas. Enquanto isso, a única área de floresta na região está sendo devastada pelos invasores, com enormes prejuízos para a nossa comunidade. O INCRA, por outro lado, é sabedor de que nos fez essa doação há dez anos e os demais órgãos citados nesse documento também são sabedores de que fizemos desta área uma reserva ambiental e cultural para as futuras gerações do nosso povo e o mínimo de qualidade de vida para todos. E agora, nos deparamos com a atitude do próprio INCRA que diz ter assentado outras famílias não índias na área, sem nos consultar, desrespeitando acordos feitos anteriormente entre a FUNAI e órgão agrário”.
E finalizavam o documento entregue ao MPF, à Funai e ao Incra, em Brasília, pedindo, uma intervenção do MPF no caso e outras ações, tais como “que o INCRA retire imediatamente os invasores da área, antes que eles destruam toda a cobertura florestal da serra, causando-nos ainda mais danos; cobre da FUNAI a regularização das áreas cedidas pelo INCRA e solicite do MPF em Marabá um acompanhamento mais incisivo do caso”.
Porém, o que ocorreu mesmo foi aquilo que já vinha sendo alertado pelos índios às autoridades da região há algum tempo. Ou seja, o assassinato de um dos membros da comunidade Atikum da Aldeia Ororubá na luta pela terra, o que deixou um povo todo abalado, com medo e entristecido.
Segundo informações dos próprios indígenas, a Funai e a Policia Federal já estão na área apurando o caso, mas a comunidade está questionando  quem agora vai resolver o caso da invasão da terra das 18 famílias indígenas que dependem deste pedaço de chão para sobreviver? Quantas vidas ainda terão de sucumbir à saga dos invasores, para que os órgãos competentes tenham boa vontade de resolver o problema? E quem vai reparar essa perda que a família da vitima e a comunidade Atikum está sofrendo, com o bárbaro assassinato de um dos seus membros?
Esperamos que a justiça seja feita, que este assassinato de mais uma liderança indígena no Brasil não fique impune, que os responsáveis sejam presos e processados e que os invasores da área da comunidade Atikum da Aldeia Ororubá sejam retirados imediatamente do território do povo.

O Senhor Jesus nos ajude a viver o amor a Deus e ao próximo.    

Marabá (PA),  10 de julho de 2013.

Dom Vital Corbellini
Bispo Diocesano de Marabá – PA

Conselho Indigenista Missionário - Equipe de Marabá

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