terça-feira, 9 de julho de 2013

Monitoramento do Desmatamento em Áreas Protegidas no Pará

Monitoramento do Desmatamento em Áreas Protegidas no Pará
Sanae Hayashi*, Carlos Souza Jr. & Kátia Pereira

O Pará possui 55% do seu território designado como Áreas Protegidas (Terras Indígenas e Unidades de Conservação). Essas áreas estão, em parte, expostas às ameaças de desmatamento e à exploração madeireira, pois a sua proteção efetiva é incipiente e a aplicação da lei de crimes ambientais é lenta. Isso ocorre por causa da demora na detecção dos desmatamentos e da falta de provas materiais para caracterizar esse tipo de crime ambiental. Neste O Estado da Amazônia, apresentamos os resultados da parceria entre o Imazon e o Ministério Público Federal (MPF) no Pará de agosto de 2007 a dezembro de 2008. O objetivo dessa parceria é tornar as ações de combate ao desmatamento ilegal nas Áreas Protegidas mais ágeis. Utilizamos o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) desenvolvido pelo Imazon para detectar em tempo quase real os desmatamentos ilegais nessas áreas. O MPF, por sua vez, usa essa informação para cobrar dos órgãos ambientais a verificação em campo do desmatamento e acompanhar o processo de responsabilização dos crimes ambientais em Áreas Protegidas.

Áreas Protegidas no Pará
A criação das Áreas Protegidas na região amazônica, além de ser um dos mecanismos de preservação e conservação dos recursos naturais, também é considerada uma estratégia de ordenamento territorial. Em dezembro de 2008, as Áreas Protegidas no Pará representavam 55% (684 mil quilômetros quadrados) do seu território (Figura 3). Desse total, 284 mil quilômetros quadrados (41%) eram Terras Indígenas, 195 mil quilômetros quadrados (29%) eram Unidades de Conservação federais e 205 mil quilômetros quadrados (30%) eram Unidades de Conservação estaduais. Cerca de um terço da área total protegida foi estabelecido em 2006, com destaque para cerca de 150 mil quilômetros quadrados criados pelo Governo do Pará com apoio técnico do Imazon.
Apesar dos esforços para a criação das Áreas Protegidas no Estado, muitas dessas unidades ainda não foram implantadas. Por exemplo, de 20 Unidades de Conservação analisadas pela Conservação Internacional em 2007 no Pará[1], a maioria (60%) não possuía Plano de Manejo[2] elaborado e aprovado pelo órgão gestor. Além disso, a efetividade na aplicação da lei de crimes ambientais que pune os casos de desmatamentos ilegais nas Áreas Protegidas[3] é baixa. Isso decorre tanto da demora na detecção dos desmatamentos ilegais e da falta de provas materiais para caracterizar esse tipo de crime ambiental como da dificuldade em localizar os infra-tores. Portanto, a redução do desmatamento nas Áreas Protegidas e o aumento da chance de punição efetiva dos crimes ambientais nessas áreas dependem de ações estratégicas e ágeis de monitoramento, fiscalização, controle e responsabilização.

Monitoramento Mensal do Desmatamento
O monitoramento mensal do desmatamento nas Áreas Protegidas[4] é realizado pelo SAD, sistema que utiliza imagens do sensor Modis (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) com capacidade de detectar automaticamente incrementos de desmatamento maiores que 6,25 hectares mensalmente. Após a detecção, as áreas (polígonos) de desmatamento são repassadas para o ImazonGeo (http://www.imazongeo.org.br) – banco de dados geográficos da Amazônia voltado para internet – onde são organizados em mapas interativos, gráficos e relatórios. No ImazonGeo, os polígonos de desmatamento nas Áreas Protegidas são auditados e validados por meio de imagens de satélites mais detalhadas[5]. Esse procedimento é necessário para a confirmação inequívoca do desmatamento ilegal, a qual servirá de base para a instauração de processos administrativos e judiciais. Em seguida, os polígonos de desmatamento validados são incorporados a representações[6] que são encaminhadas ao MPF (Figura 1). Em cada representação estão resumidas as informações básicas de cada Área Protegida, bem como dados do desmatamento e a imagem de satélite utilizada na validação[7]. Além disso, gera-se uma figura das Áreas Protegidas com a localização do desmatamento e imagens de satélite de vários anos para mostrar a sua evolução (Figura 2). Todas as representações são divulgadas no ImazonGeo.

Desmatamento nas Áreas Protegidas
Entre agosto de 2007 a dezembro de 2008, 389 quilômetros quadrados foram desmatados em Áreas Protegidas no Pará. Desses, 182 quilômetros quadrados foram enviados para o MPF em forma de representações (Figura 3). Isso significou 145 representações (uma para cada polígono de desmatamento) distribuídas em 21 Áreas Protegidas federais, das quais 9 eram Terras Indígenas, outras 9 eram Unidades de Conservação de Uso Sustentável e 3 formavam Unidades de Conservação de Proteção Integral. A maioria do desmatamento concentrou-se na região da “Terra do Meio” e nas proximidades da BR-163, áreas de expansão de fronteira de desmatamento (Figura 3). A partir de 2008 houve redução no desmatamento em Áreas Protegidas, ocasionada em grande parte pelas medidas governamentais adotadas no início desse ano contra o desmatamento na Amazônia[8]. No Pará houve uma redução de 72% do desmatamento nas Áreas Protegidas entre os anos de 2007 e 2008, quando o desmatamento atingiu 574 quilômetros quadrados e 162 quilômetros quadrados, respectivamente. Essa redução ocorreu em todos os grupos de Áreas Protegidas, principalmente em Unidades de Conservação de Proteção Integral, onde a queda foi de 85%.

Áreas Protegidas com mais Representações
As dez Áreas Protegidas com maior número de representações de desmatamento encaminhadas para o MPF (agosto de 2007 a dezembro de 2008) foram: Florestas Nacionais (Flonas), Áreas de Proteção Ambiental e Terras Indígenas. A Flona do Jamanxim (oeste do Pará) foi a Área Protegida com maior número de representações de desmatamento (n=51), bem como a maior área desmatada (58 quilômetros quadrados) detectada pelo SAD (Figura 3). Entre as Terras Indígenas, a Xikrim do Cateté apresentou a maior área desmatada (37 quilômetros quadrados), seguida da terra Kayapó com 10 representações de desmatamento e um desmatamento total de 29 quilômetros quadrados no mesmo período. ( será publicado depois a continuidade do artigo).

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